sábado, 31 de maio de 2008

Lembrança

Vejo o tempo em suas tranças infinitas plantando suas raízes na terra úmida das horas que nunca descarrilam e só se acumulam na estação de mim. Vejo o tempo engendrar olhos e ouvidos na superfície orvalhada e reproduzir o som da persistência do nada, continuamente até que se ouçam internos os sons que ora lá fora habitavam. E nesse momento, o tempo produz o silêncio em demasia. E o silêncio atravessa as barreiras do som e penetra nas paredes auditivas como o desconforto da ausência persistindo. E a ausência se faz presente na visibilidade do tempo ocupando seus espaços

Eu tenho o tempo presente nas cobertas e mantas com o cheiro da minha eternidade momentânea. Tenho o tempo na poeira que já fora tua e nas teias que já foram ar. Nas paredes hoje nuas e na corrente de prata da cama. Eu, que tenho o tempo presente na seda dos pulsos. E o tempo, todo ele se ri, hilário e sarcástico, hipócrita de meus olhos. Eu que não sabia que ao tempo se deviam ofertar os mesmo júbilos que se ofertam à deus.

Nesses instantes o tempo pára e me olha. E nesses instantes eu percebo: o tempo sou eu. E como o tempo eu retorno, vivo e radiante, para a estrela vespertina, para a saudade constante, antes que eu, o tempo, me desfaça de mim.E isso, até que o dia seguinte venha. Talvez, pelo menos, até que o dia seguinte venha.E ele sempre vem. Mesmo que frio e com o peso das horas.


Um comentário:

Unknown disse...

nao gostei dos 2 primeiros paragrafos... algo de querer passar demais e acabar nao passando.
acho q eh pq eu tenho essa necessidade que as pessoas digam demais com duas tres palavras. acho q vontade de simplificar, ou, uma consciencia de que se tentar demais se perde.
gostei do 3 paragrafo. interessante. o tempo sou eu.