terça-feira, 9 de agosto de 2011

Declaro

Eu sou a porta batendo
eu sou a rua dizendo
que não há falta de tempo
o que há é excesso de gente
circulando como um bando de penitentes
nessa vida um caos total.

Eu sou o povo sem nexo
sou a palavra perplexa
mirando as ruas repletas
de seres humanos pensantes,
só gritam nos auto-falantes
essas máquinas de carne e osso em pó.

Eu sou um grito supresso
eu sou o respiro deserto
de mil passadas andadas
na estrada muda e calada
de uma gente sem fome de vida
que se alimenta de luz

Eu sou a ultima gota,
o desespero aflorado
uma mulher já sem corpo,
um homem desalojado
de si e do mundo parado
separado por todos nós.

Eu tenho a última voz
eu tenho a última lira
tenho nos punhos cravados
o substrato da ira
vou me arremessando nas faces
quase sem anúncio

Eu sou o irreprimível
o indizível em seu momento instantâneo
em que abandono meu corpo,
em que abandono meus planos
para declarar-me a esse mundo
completamente insano.

Um comentário:

Laís disse...

AMEI!
AMEI!
AMEI!

Olha só, posso dizer que esse é o poema seu que mais gostei? O ritmo, a idéia, tudo fantástico! Dá vontade de ler de novo e de novo!

Beeijo!