segunda-feira, 6 de junho de 2011

Fim

não tento. eu simplesmente desisto. porque tentar é para aqueles que são fortes. que vem à vida com braços e troncos largos que se estendem em direção ao infinito. o infinito que não cabe em si. o infinito inenarrável
sou eu a grande fornicadora do vazio. a inutilidade latejante da humanidade irrisória. uma seqüencia de amebas em seus tentáculos profanos. sua cauda maligna ou sua ausência de qualquer apêndice. sua estaticidade permanente de criatura viva.
cansei dos vórtices das horas na suspensão dos dias. cansei das caminhadas, dos esforços e da frialdade inorgânica das paredes de cimento fresco. seu gosto poroso pelas frestas escuras. seu cheiro ácido nas manhãs de desespero. espero paciente pela quietude sacramental das angústias diárias. destilando seus venenos no raso da boca e ao largo dos seios.
não me concebo. não me concebo em absoluto. todos aqueles sons, aquelas cores, aqueles seres múltiplos a circunvoluntear pelo teto e pelos meus pêlos. que saíam e tomavam a forma de uma outra coisa que saía deles para devorar-me. de instante em instante aquela repetência claustrofóbica entre os dentes.
venha. estou preparada. a coragem dos loucos é o apetite da ignorância. e as criaturas se alimentam da ignorância. quero seus dentes, sua língua, sua garganta e toda a escuridão que lhe prossegue. o cheiro das borboletas enclausuradas na arcaica dimensão de seu estômago. pois não às libertarei. dormirei o sono augusto. uma hora, creio incólume, a grande baleia também morrerá. a criatura leviatânica. e eu. eu serei novamente uma ameba dura na relutância do dia.
no mormaço das horas sinto os pulsos palpitantes. sinto a necessidade do outro. mas o outro não vem. e na ausência do outro eu seguro o alheio. mas o gosto do alheio não me agrada. é comum. ordinariamente comum. um gosto quase próprio. um gosto de mim. o gosto insuportável de mim. não agüento. não agüento mais o tardar do povir. é dada a hora de ser maior que si. sem relutância. Desisto

Um comentário:

Laís disse...

hum. me assustei. não vou falar sobre a construção, gostei.
tive muitas visões apocalípticas. é como se os sentimentos tivessem sido engolidos e passaram a lutar pra sair, sem êxito.
gostei, mas achei muito triste.
=*